O "fim" orienta nosso presente
Estamos chegando ao final do ano litúrgico cristão. A
Festa de Cristo Rei, que celebraremos o próximo domingo, coroa esse fim.
É por isso que a liturgia, em vista a preparação desta
festa, nos oferece o evangelho de hoje com claras características
apocalípticas.
Todo o capítulo 13 deste evangelho é chamado de
"apocalipse de Marcos".Temos que levar em conta que Jesus vivia num
ambiente marcado pela efervescência apocalíptica. Esperava-se o Messias, a
intervenção de Deus na história, o fim do mundo, a era definitiva.
Também as comunidades primitivas vivem essa expectativa
dos finais dos tempos, na espera da nova vinda do Senhor.
Mas Marcos ao empregar uma linguagem apocalíptica, não
quer falar de coisas futuras, mas conduzir a comunidade cristã ao discernimento
diante de fatos catastróficos com a destruição de Jerusalém e do Templo (ano
70d.C.) e ao compromisso cristão.
Em nosso tempo, também é comum escutar previsões sobre
quando vai ser fim do mundo, a entrada no terceiro milênio parecia para muitos
o início do fim. Vários acontecimentos dos últimos anos marcam para alguns esse
final...
Nas notícias do día 18/09/2010 o filósofo
esloveno Slavoi Zizek refere-se também ao apocalipse ecológico como
"outro sinal desse fim dos tempos" como um aspecto que pode ser
considerado cínico na nossa realidade.
No final do evangelho de hoje, Jesus nos adverte que o
importante não é saber o dia e a hora, isso somente compete ao Pai, nem Jesus
mesmo o sabe!! Então o que é importante saber ou levar em conta sobre o fim?
Dirigir nosso olhar para o fim, nos remete para o hoje, o
presente de nossa história, porque o fim, a meta de toda a humanidade é a
comunhão com Deus, com o Pai. Ele mesmo nos orienta para onde está sua atenção,
sua paixão, seu coração latejando: a história humana, seus filhos e filhas, o
cosmos...
Este caminho de volta ao Pai, que é nossa vida, não está
extinto de dificuldades, sobretudo se queremos viver seriamente nossa fé. Onde
encontramos força para continuar peregrinando?
A comunidade primitiva sofreu sérios problemas internos e
externos. Marcos busca levar o olhar além deles: «Nesses dias, depois da
tribulação, o sol vai ficar escuro, a lua não brilhará mais...".
Esses sinais grandiosos, catástrofes cósmicas, são
sinônimos, no Antigo Testamento, de que Deus age na história em favor dos seus.
Já no livro do Apocalipse os acontecimentos cósmicos preanunciam a novidade que
Deus vai criar.
Assim sendo, o evangelista está encorajando a sua
comunidade a colocar sua esperança em Deus que não somente não os abandona,
mais ainda está agindo na história, fazendo algo novo, vencendo os diferentes
tipos de morte.
Essa esperança certa moveu os cristãos de todos os tempos
a resistir nas perseguições e continuar na luta pela expansão do Reino.
O evangelista, inspirando-se no profeta Daniel,
apresenta, a vinda do Filho do Homem, sobre nuvens, sinal da presença de Deus
no Antigo Testamento, marcada pelo julgamento.
Paradoxalmente, o ator do julgamento é o próprio ser
humano! Ele constrói no presente de sua história a eternidade que viverá!
Acreditar que o Senhor está presente na história e virá
definitivamente no final dos tempos, leva os cristãos e cristãs a não baixar os
braços, antes bem a se esforçar, imbuídos da graça de Deus, no serviço de Seu
Projeto de Vida em abundância para todos e todas!
Qual é visão que eu tenho do fim dos tempos? Como estou
construindo minha eternidade?
Com a parábola da figueira, Jesus quer ensinar a sua
comunidade a aprender, distinguir e discernir os sinais da presença de Deus no
mundo, na história.
É por meio deles que Deus vai conduzindo seu projeto e a
própria história para um rumo novo.
Assim como não é tarefa da comunidade especular sobre o
fim dos tempos, também não o é, ficar preso aos sinais, nem ignorá-los, mesmo
antes de saber lê-los á luz da Palavra de Deus.
Nela se encontra o critério seguro para descobrir como e
onde Deus atua e nos quer como comunidade agindo na história, respondendo aos
diferentes apelos de nossos irmãos/ãs e de nossa mãe terra também!
Porque "o céu e a terra desaparecerão, mas as minhas
palavras não desaparecerão".
Referências
BARBAGLIO, Giuseppe, FABRIS, Rinaldo; MAGGIONI,
Bruno. Os Evangelhos (I). São Paulo: Loyola, 1990.
KONINGS, Johan. Espírito e mensagem da liturgia
dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1981.